Tomada de decisão – Como podes melhorar este processo

O futebol atual é caracterizado pela enorme especificidade que possui e pela grande exigência do ponto de vista físico, técnico, tático e mental, onde a tomada de decisão ganha contornos essenciais num jogo.

Como jogador a tua capacidade física e técnica é bastante importante, contudo, a velocidade com que consegues ver as tuas opções, é extremamente relevante na qualidade do teu jogo. Esta é uma qualidade que tens de desenvolver para elevares o teu desempenho para outro patamar.

As decisões são inerentes ao facto de viver. Estamos constantemente a decidir, desde simples decisões que ocorrem ao longo do dia, até decisões mais complexas, que levam a uma profunda mudança.

Estas decisões, por serem muito numerosas, poucas vezes são tomadas num plano consciente, assim a maioria das decisões tomadas diariamente ocorrem de uma forma inconsciente.

Neste âmbito, o plano emocional possui um papel de grande destaque, devido ao facto de as emoções serem a base de todas as decisões que tomamos.

Num desporto como o futebol, onde a complexidade está presente, entender a dinâmica emocional é de grande importância, atendendo ao protagonismo que esta tem na tomada de decisão.

Segundo Guindos (2015), “a consequência metodológica a utilizar obriga a educar e treinar o inconsciente de uma forma pragmática e aplicada ao nosso desporto” (p.90).

Processo de tomada de decisão tradicional

Processo de tomada de decisão atual

Se observarmos pormenorizadamente as ações de um jogador, verificamos que a sua atuação está dividida em dois momentos distintos: o momento de receber a informação e o momento de execução do plano de ação. Este processo é denominado como ciclo de perceção-ação.

Quando o reconhecimento da ação a executar é rápido, podemos dizer que o jogador utiliza automatismos táticos percetivos, por outro lado, se este não possui situações definidas na sua memória, serão as capacidades cognitivas percetivas as responsáveis pela realização de uma proposta de filtragem.

As ações levadas a cabo na resolução de distintos problemas não são realizadas de forma isolada, mas sim encadeadas uma na outra em pouco tempo e, inclusive, algumas ações são realizadas em simultâneo.

Jogadores experientes, possuem a capacidade de conseguirem efetuar uma determinada ação e paralelamente pensarem e analisarem o contexto, com o intuito de projetar a sua próxima intervenção.

Da grande quantidade de estímulos a que um jogador deve responder, podem diferenciar-se dois como os mais importantes: as ações dos colegas e as dos adversários. Daqui emerge a ideia de tática.

É importante termos presente que a informação mais importante para os desportistas é obtida através do sentido da visão, ou seja, através do campo visual central que permite um reduzido ângulo da visão, o que lhe faculta a receção de pouca informação, mas muita qualidade da referida informação, apreciando cada pormenor da situação.

Por outro lado, o campo visual periférico alcança um grande ângulo, proporcionando muita quantidade de informação, mas pouca qualidade (atendendo a que não se detém nos pormenores) (Espar, 2017).

Características do campo visual

Seirul.lo (1987) expõe que a “chamada tomada de decisão não pode ser só entendida como um processo consciente, embora em determinadas ocasiões possa sê-lo. Na maioria das vezes, durante a interação entre adversários produz-se uma serie de ações altamente eficazes que não precisam do acoplamento intenção-ação ou instrução-ação”.

Tomada de decisão elementos configuradores

Olhar: É essencial que possuas o perfil ajustado à ação, uma orientação corporal correta com o intuito de ampliar o teu campo de visão.

Perceber: Tenta detectar situações, espaços próximos (espaços de ajuda mútua) e espaços longínquos (espaços de cooperação).

Analisar e compreender as situações: Desenvolve a tua visão periférica com o objetivo de identificar espaços, permitindo-te assim, antecipares-te à ação posterior.

Decidir: Seleciona a melhor opção para a tua equipa.

Ação: Após processares toda a informação relevante, tentar agir de uma forma eficaz e eficiente. É importante otimizares a comunicação através da bola entre o ti e o recetor.

Durante a fase de posse há três momentos a teres em consideração:

• Antes de possuir a bola: as etapas durante este processo constituem o que se denomina como cognição complexa (olhar, perceber, analisar, antecipar e decidir o que se deve fazer).

• Durante (momento de contacto com a bola): neste processo a execução deve ser eficaz e eficiente. É o momento entre o executante e o recetor.

• Depois do contacto com a bola: É crucial que continues a movimentar-te. Após efetuares o passe deves ficar disponível novamente para receberes a bola.

Em resumo, para uma tomada de decisão eficaz e eficiente, deves ter presente as distintas variáveis que constituem as ações.

Efetuar a decisão correta tem uma conotação com o resultado que pretendes após realizares uma análise ponderada das ações e opções exequíveis.

É imprescindível que consigas identificar os pontos fortes e fracos, tanto do adversário como os teus, com a intenção de extrair benefício dos distintos cenários.

Na essência, é fulcral incrementares de uma forma produtiva a tuas decisões com e sem bola, apesar de muitas destas estarem correlacionadas com o modelo de jogo/forma de jogar da tua equipa.

O aperfeiçoamento deste atributo requer tempo, muito trabalho e uma profunda compreensão do jogo.

Bons Treinos!

Flávio Oliveira

Referências

Espar, X (2017). La estructura cognitiva. En Seirul.lo, F. El entrenamiento en los deportes de equipo (p. 244-257). Barcelona: Mastercede.

Seirul.lo, F. (1987). La técnica y su entrenamiento. Apunts. Medicina de L´Esport, 24 (93), p. 189-199.